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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Há-de flutuar uma cidade

há-de flutuar uma cidade no crepúscolo da vida 
pensava eu... como seriam felizes as mulheres 
à beira mar debruçadas para a luz caiada 
remendando o pano das velas espiando o mar 
e a longitude do amor embarcado 

por vezes 
uma gaivota pousava nas águas 
outras era o sol que cegava 
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite 
os dias lentíssimos... sem ninguém 

e nunca me disseram o nome daquele oceano 
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas 
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua 
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar 
se espantasse com a minha solidão 

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.) 

um dia houve 
que nunca mais avistei cidades crepusculares 
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta 
inclino-me de novo para o pano deste século 
recomeço a bordar ou a dormir 
tanto faz 
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

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