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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ricardo Reis


Para o nascimento de Ricardo Reis, quer na mente do poeta, quer na sua “vida real”, Fernando Pessoa estabelece datas distintas. Primeiro afirma, de acordo com o texto de Páginas Íntimas e de Auto- Interpretação (p.385) que este nasce no seu espírito no dia 29 de Janeiro de 1914: «O Dr.Ricardo Reis nasceu dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas da noite. Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão extensa sobre os excessos, especialmente de realização, da arte moderna. Segundo o meu processo de sentir as cousas sem as sentir, fui-me deixando ir na onda dessa reacção momentânea. Quando reparei em que estava pensando, vi que tinha erguido uma teoria neoclássica, que se ia desenvolvendo.». Mais tarde, numa carta a Adolfo Casais Monteiro datada de 13 de janeiro de 1935, altera a data deste nascimento afirmando que Ricardo Reis nascera no seu espírito em 1912. Fernando Pessoa considera que este heterónimo foi o primeiro a revelar-se-lhe, ainda que não tenha sido o primeiro a iniciar a sua actividade literária. Se Ricardo Reis está latente desde o ano de 1912, a julgar pela carta mencionada, é só em Março de 1914 que o autor das Odes inicia a sua produção, desde então continuada e intensa, e sempre coerente e inalterável, até 13 de Dezembro de 1933. Também no que respeita à biografia de Ricardo Reis,Fernando Pessoa apresenta dados distintos. No horóscopo que dele fez, situa o seu nascimento em 19 de Setembro de 1887 em Lisboa às 4.05 da tarde. Na referida carta a Adolfo Casais Monteiro altera a cidade natal de Ricardo Reis de Lisboa para o Porto.

Médico de profissão, monárquico, facto que o levou a viver emigrado alguns anos no Brasil, educado num colégio de jesuítas, recebeu, pois, uma formação clássica e latinista e foi imbuído de princípios conservadores, elementos que são transportados para a sua concepção poética. Domina a forma dos poetas latinos e proclama a disciplina na construção poética. Ricardo Reis é marcado por uma profunda simplicidade da concepção da vida, por uma intensa serenidade na aceitação da relatividade de todas as coisas. É o heterónimo que mais se aproxima do criador...

A flor que és, não a que dás, eu quero.

Porque me negas o que te não peço.

Tempo há para negares

Depois de teres dado.

Flor, sê-me flor!

Se te colher avaro

A mão da infausta esfinge, tu perere

Sombra errarás absurda,

Buscando o que não deste.


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